segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Arrumei minhas malas e fui

Eu simplesmente não aguentava a pressão . Era muita informação para a minha cabeça, e dos dois lados. E o pior: eu não tinha escapatória. Não tinha um porto seguro a quem recorrer. Eu sou do tipo de mulher que padece em meio à pressão. Que fica nervosa, treme, chora, se descabela e se arranha. Eu faço parte do time que sente, que não disfarça, e quando disfarça, dói triplicado.

Por doer tanto assim, eu decidi fazer as malas e ir. Ir para longe de todos esses problemas e recomeçar uma vida, completamente livre das pessoas e erros do passado. Fui para a Inglaterra com uma mala cheia de roupas e coragem. Passei os apuros típicos no aeroporto, respirei o ar londrino como se fosse uma droga. Ali era o meu lugar.


As pessoas que eu conheci, os lugares que frequentei... Tudo era diferente. Ao mesmo tempo em que ninguém me conhecia, ninguém me criticava (justamente por esse motivo). Eu já não chorava mais, andava mais leve, cheia de casacos e sonhos. Pratiquei meu amado inglês, escrevi para uma agência de comunicação, vivi. Eu havia cansado daquela sujeira toda, daquela mentira, daquela falsidade, daquela secura típica de um mar morto. Eu queria viver, respirar, ser feliz. Todos tinham o direito de ser feliz, não é mesmo? Eu fui buscar o meu.

Passei a noite em pubs londrinos, conheci mulheres estilosas e inteligentes de sotaque maravilhoso. Conheci brasileiros, americanos, franceses e italianos. Gente de todo o tipo, música de todo o tipo. Li livros em inglês, e entendi. Trabalhei, ganhei dinheiro, fiz minha vida. E voltei.

Quando voltei você estava mais lindo do que nunca, com seu cabelo bem cortado e a barba por fazer. Você estava com um blazer que te fazia importante, mas eu sabia que aquela camisa xadrez ainda estava no armário. Eu vi você de longe, em um café na Paulista. Você estava longe, mas eu sentia seu cheiro em meio a todas as mesas ali. É o cheiro que eu senti falta quando me fui. Você estava apressado, como sempre, devia fazer algo importante a seguir. Deu as últimas mastigadas e bebeu o último gole do suco de laranja. Pegou sua pasta e saiu rápido, olhando o relógio. Eu suspirei.

E torci pra te ver ali de novo algum outro dia, e quem sabe um dia ouvir sua voz ao acordar, de novo.

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