sábado, 21 de junho de 2014

Seu ciúmes é problema seu

Antes de começar, devo dizer que vou usar "parceiro" valendo para "parceira" também. Dito isso, vambora.

Hoje vou falar de ciúme.

Ciúme: Emulação, inveja; zelo de amor./ Pesar, despeito por ver alguém possuir um bem que se desejaria ter: o ciúme o atormenta. / Receio de que a pessoa amada se apegue a outrem.

Desde que a monogamia virou regra, o ciúme é parte quase obrigatória de um relacionamento. Esse "zelo de amor" é quase como uma guarda sobre o tesouro da rainha. Armado com revólver, faca e senha do Facebook, ninguém se aproxima, ninguém conversa, ninguém olha.

Falando em olhar, quantas vezes você se sentiu inferiorizado/a quando teu parceiro olhou uma pessoa bonita na rua ou na internet? Sem mentir, quantas? Eu já, e após uma leve reflexão no chuveiro, eu tenho uma novidade pra você: isso é ridículo. Da sua parte.

"Mas cê tá louca? Ele/ela tava olhando a bunda daquela/daquele vaca/corno!". 

Primeiro: segura teu palavreado com a pobre criatura que ela/ele não tem culpa da safadeza do seu parceiro. Segundo: sim, é falta de respeito (pelo menos pra mim) o fato do teu parceiro ter dado pinta do teu lado. Pode ficar bravo por isso. Mas essa história vai muito mais além. O problema é quando essa situação faz você se sentir uma fruta azeda esquecida na fruteira (ah, minhas analogias maduras). 

Deixa eu adivinhar: você olhou a pessoa que o teu parceiro fitou. Você memorizou a cor do cabelo, o tamanho da bunda, da coxa, do bíceps, do peito, do sorriso. Cê viu? Tem nada a ver com você. Aí vai se martirizar pensando que teu parceiro não se interessa mais por você, mas sim por aquele modelo que passou. Que cê tá passado, esquecido, tão notável quanto um figurante da Malhação.

Não é verdade, amiguinho. Me abraça aqui. 

O ser humano é curioso. E o desejo do ser humano não amorna, ele muda. O teu problema aqui, amigo, é confundir amor e desejo. O desejo nada mais é do que um pensamento repentino de querer. Não é querer de fato, mas pensar em querer. Talvez, se não fosse dadas as atuais circunstâncias, poderia até rolar. Mas para por aí. Fazendo analogia com comida (quem me conhece sabe que isso é previsível): você está passando por uma padaria e vê aquela torta de limão sensacional de deliciosa - mas não tem um puto no bolso. Cê vai comprar? Não. Aí você chega em casa e a pessoa com quem você mora fez uma torta de morango que é a tua preferida da vida. E você come aquilo com tanto gosto e apreço que nem se lembra que existe limão, torta e muito menos padaria. Isso é amor. 

O amor, que é o que teu parceiro tem com você, é sólido. Tem espaço garantido. Vai além da vitrine bonita, malhada e sensual. É uma combinação mágica entre o teu papo, tua risada estranha, suas manias bestas, seus truques e teu olhar profundo. Você é além daquilo que acabou de segurar a atenção do seu parceiro.

"Muito bonito tudo isso, mas ainda tô me sentindo podre".   

Eu cheguei a uma conclusão: ficamos mal porque achamos ruim que nosso parceiro não nos olhe mais daquele jeito que olhou para a outra pessoa, como fazia no começo do relacionamento. Pensa direitinho antes de negar. Compreende o que você sentiu. Sem mentir para você mesmo. Não precisa nem falar em voz alta se não tiver coragem. Acertei? Provavelmente sim.

O problema, colega, é que essas comédias românticas, essas novelas e esses livros de romance te iludiram a vida inteira. A vida não é nem perto daquilo. Nem sempre o cara com câncer é feliz e tem experiências maravilhosas antes de morrer. Nem sempre você vai encontrar uma pessoa linda e romântica enquanto trabalha no caixa do McDonald's. Provavelmente não vai adiantar você dizer "meu sonho é ir pra Buenos Aires" esperando que seu parceiro te faça uma surpresa e te leve para lá com tudo pago, te peça em casamento e te diga os nomes dos seus futuros filhos - tudo isso no terceiro mês de namoro. Seu parceiro não vai desejar única e somente a você por toda a vida dele. Isso-não-acontece. Nem do lado feminino, e nem do lado masculino. 

Vou usar um exemplo bem cruel. Você comprou um carro novo, que você desejava. Você está sentado no sofá da sala e está pensando "Caralho! Tenho um carro daquele na minha garagem!". Você entra no carro e quase tem orgasmos. "Que banco confortável, que painel! Quantas funcionalidades!". Algum tempo depois você ainda está feliz, mas já não diz mais nada. Depois você entra no carro, coloca o cinto, liga o rádio e simplesmente dirige. Percebe que o porta-luvas é meio pequeno e o ar condicionado não funciona tão bem.Você deixou de gostar do carro? Nem um pouco! Mas não é mais novidade (e você continua olhando os Camaros que param do teu lado no semáforo). Assim são os relacionamentos. 

Todo aquele frescor da novidade é muito excitante eu sei, mas passa. Você enaltecia completamente o seu parceiro no começo do relacionamento. Tudo o que ele fazia era grande, admirável. Hoje você ainda o ama, ainda o admira. Mas você já sabe quem ele é. Vibra com as conquistas, incentiva, mas você já o conhece. Não, seu parceiro não fica mais de pau duro assim que te vê de calcinha e sutiã - e vice versa. Mas você sabe o que faz com que ele se excite, sabe o que fazer para ele te desejar. Essa é a graça da intimidade. São os truques, as piadas internas. 

Moral da história: Aprendi a duras penas que brigas excessivas fazem mal. E sabe o que mais gera brigas bestas? Ciúme ingênuo e insegurança. Ter ciúmes de pessoas ou situações que não são ameaça ao teu relacionamento, mas a você, é problema de autoestima todinho seu. Tenha orgulho de quem você é, ame seu corpo. Falando particularmente como mulher: aquela deusa linda, com seios gigantes e modelados, pode ser maravilhosa sim. Mas eu aqui, com os meus medianos, também faço estrago. Até maior. Sou segura de mim, e confio no meu taco. 

Confie no seu. 

Ps: Esse texto leva em consideração que seu parceiro não seja, de fato, um babaca/uma babaca que não tem respeito por você. Se for, desconsidera e briga mesmo. Filho da puta.

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