quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Imagine-me


Coisas dessas noites de final de inverno. Você pensa em como acender aquela chama delicada e perigosamente inflamável que só vocês dois conhecem, só os dois se apagam e se acendem. Você sabe, ele chega cansado da mesmice do escritório, e você não quer ser a escapatória pronta, fácil, rotineira.
O teu banho está pronto, a água morna vai preparar a sua pele assim como aquele creme que ele sempre gostou. Você se massageia suavemente, sentindo cada nota da fragrância suave que exala das suas pernas, braços e pescoço.
Descendo as escadas, a brisa suave e gelada arrepia cada parte do seu corpo nu. Teu cheiro se espalha pelo cômodo transformando aquele ambiente no seu território. Você é a dona daquele espaço. Reconhecido o território, o quarto é o próximo.
Andando devagar pelo quarto, você acende com calma as velas, fazendo as chamas dançarem sensualmente, destilando seu calor ao único corpo presente. Suspiro. Senta-se na cama, escovando os cabelos lentamente.
Ouve a porta da sala abrir. Respira fundo, ele chegou.
Atentamente, cada passo dele é sentido por ela. O barulho das garrafas, o gelo remexido no copo. A escada range. Você guarda a escova na gaveta, e se coloca confortavelmente sentada na cama, de costas para a porta. A respiração dele é ofegante, como se soubesse que algo o esperava atrás da porta do quarto.
As chamas das velas dançam no quarto, fazendo sombras e luzes em torno do seu corpo. Seu pescoço à mostra revela a fonte do perfume feminino que ele adora. Os passos dele se aproximam e você fecha os olhos.
Sente o toque firme dele, suspiro, ele beija teu pescoço e seu mundo podia acabar ali, agora. O que ele quer, é o mesmo que você quer. A sintonia é cristalina, perfeita.
O lençol macio toca tuas costas, chame-o pra você. Beijo devagar, demorado, silencioso. Você morde seu lábio, sentindo os dele percorrerem toda a sua pele, macia. Uma montanha-russa de sensações, suspiros, suor, gemidos. Olho no olho, o ápice chega. Não duvide que os vizinhos escutem, e não ligue. Que o mundo todo saiba o quanto suas pernas tremem, o quanto seu coração tenta retomar o ritmo normal.
Sinta o calor do peito dele no seu rosto, enquanto o sono vem. Agora sim, o mundo pode acabar.

Este conto é uma versão feminina de Imagine, escrito por Luís França no blog   
http://odivagardeumlouco.wordpress.com

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